20 de jan. de 2011

Uso de droga admitido por 15% da população - Jornal do Commercio (20/01/2011)


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Uso de droga admitido por 15% da população
Publicado em 20.01.2011


Levantamento do Instituto Maurício de Nassau revela que 550 mil habitantes do Grande Recife já consumiram alguma substância entorpecente ilícita. Foram entrevistadas 815 pessoas, nos dias 6 e 7

Eduardo Machado
eduardomaxado@gmail.com

Pesquisa do Instituto Maurício de Nassau revela que 15% da população da Região Metropolitana do Recife já usou algum tipo de droga. Ou seja, cerca de 550 mil dos 3,6 milhões de habitantes do Grande Recife consumiram substâncias entorpecentes ilícitas. Cinco por cento da população, o equivalente a 184 mil pessoas, admite ser usuária frequente de entorpecentes. Apesar disso, 94% dos entrevistados são contra a descriminalização das drogas.

A pesquisa entrevistou 815 pessoas, nos dias 6 e 7 de janeiro, nos 14 municípios da Região Metropolitana do Recife. A margem de erro para o levantamento é de 3,5 pontos percentuais e o nível estimado de confiança no resultado é de 95%.

De acordo com o professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador da pesquisa do Instituto Maurício de Nassau, Adriano Oliveira, o estudo revela alto consumo de droga na Região Metropolitana do Recife. Para Oliveira, um dos dados mais reveladores é o de que, mesmo com 12% dos entrevistados admitindo ter experimentado maconha, esse percentual pode ser maior, já que 58% dizem conhecer usuários frequentes da erva.

“Muitas vezes a pessoa pode ter ficado intimidada em admitir para o entrevistador que experimentou ou é usuário da droga. A partir do momento em que 6 entre 10 entrevistados afirmam conhecer pessoas que usam drogas, isso nos leva a crer que há um alto consumo de maconha no Grande Recife”, avaliou o coordenador da pesquisa.

Outro ponto importante destacado por Adriano Oliveira é a possibilidade de crescimento do percentual de usuários de crack e cocaína. “Pernambuco vive um momento de incremento da economia e de mais pessoas tendo melhoria de renda. Isso pode favorecer a expansão do mercado consumidor de entorpecentes, que ainda está concentrado na maconha”, concluiu Adriano Oliveira.

O coordenador do estudo visualizou também a necessidade de uma campanha de esclarecimento em torno da descriminalização das drogas. “Menos de 25% dos entrevistados sabem que descriminalizar significa não ser crime consumir drogas”, pontuou Adriano Oliveira.

A maioria dos entrevistados faz uma ligação direta entre drogas e violência. Para 62% da população, traficantes e usuários são culpados pela violência decorrente do comércio ilegal de entorpecentes. Somente 21% atribuem a culpa exclusivamente aos criminosos e 5% aos dependentes químicos.

Mesmo com a mudança na lei, ocorrida em 2006, que passou a não punir com prisão os usuários, 44% dos entrevistados acham que pessoas flagradas consumindo entorpecentes devem ir para a cadeia.

A pesquisa anotou no Grande Recife a existência de seis tipos de drogas mais comuns. Maconha, cocaína, crack, loló, LSD e oxi. Estes dois últimos mais raros. O LSD é um ácido que tem a apresentação mais comum de um microponto com menos de um grama e é consumido por via oral.

Já o oxi é mais um subproduto da cocaína misturado com substâncias ainda mais danosas do que as presentes nas pedras de crack. Também é fumado em cachimbos pelos usuários.

A íntegra da pesquisa pode ser acessada a partir de hoje pelo www.institutomauriciodenassau.com.br

VOCÊ É FAVOR DA LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS?

» SIM
“Intenção é desentupir as cadeias brasileiras”

Neco Tabosa
“Dá pra sentir que algo de bom nos espera no futuro do Brasil. Lentamente a sociedade começa a enxergar com mais clareza algumas diferenças. Que usuário de droga não é traficante. E que existe algo de errado com uma lei que prende negros pobres e é ‘melhor interpretada’ por policiais e juízes para favorecer brancos com dinheiro. O governo federal avança na discussão que pode reescrever a lei. O novo secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Pedro Abramovay, mal assumiu e já defendeu a aprovação do projeto que prevê o fim da prisão para pequenos traficantes. A intenção é desentupir as cadeias brasileiras, que podem receber cerca de 10 mil pessoas por ano até 2015! Todas ligadas ao tráfico de pequenas quantidades. E que podem ser atendidas por penas alternativas ao encarceramento. No atual cenário de política de proibição das drogas, só quem sai fortalecido é o mercado ilegal dessas substâncias. Com a proibição, o traficante precisa usar armamento pesado, a polícia é passível de corrupção, o usuário pode levar tapa do vendedor ou do órgão repressor, e a bala perdida sempre sobra pra quem não tem nada a ver com a história. Sem contar no retrocesso da ciência, com centros de pesquisa impossibilitados de estudar uma planta como a Cannabis sativa e seus fins medicinais. Um bom – e possível – começo é fazer com que a produção, pesquisa, uso medicinal ou consumo religioso de Cannabis deixe de ser prática criminosa A mudança é fundamental para o fim de anos de tabu e sinaliza um futuro menos violento e mais harmonioso. Para todos.”

» Neco Tabosa é jornalista e um dos organizadores da Marcha da Maconha no Recife.

» NÃO
“Descriminalização da maconha é um erro”

Wilson Damázio
“A lei atual já avançou bastante nesse particular. Hoje, o usuário flagrado consumindo drogas responde apenas a um termo circunstanciado de ocorrência. Temos uma legislação que protege o dependente químico e pune o traficante. Todos os países que descriminalizaram as drogas não obtiveram bons resultados e agora estão repensando a medida. Falando especificamente da maconha, há uma tendência a se defender a descriminalização porque seria uma droga ‘leve’. No entanto, a imensa maioria dos usuários de crack, por exemplo, começou a utilizar entorpecentes a partir da maconha. Os malefícios da maconha aos usuários são tão evidentes que a Organização Mundial da Saúde mantém a droga no rol de substâncias proibidas. Do ponto de vista policial, a descriminalização pode favorecer a atuação dos traficantes. Os criminosos vão passar a recrutar vários transportadores com porções de drogas dentro das quantidades permitidas e burlar a lei. Isso aumentará o tráfico. Teremos um boom que vai causar um impacto terrível na nossa sociedade. Acredito que a descriminalização é um erro que pode trazer consequências graves para o País como as que já são enfrentadas por causa do álcool e do cigarro. São dois exemplos de drogas com acesso livre cujos problemas decorrentes fazem os cofres públicos gastarem bilhões de reais por ano em tratamento de dependentes e com danos causados por acidentes.”

» Wilson Damázio é delegado da Polícia Federal e secretário de Defesa Social.

2 comentários:

Maria Júlia disse...

Basta comparar os argumentos... Nem precisa de muito esforço no juízo pra chegar numa conclusão. Liberaê!
:D

Unknown disse...

"Todos os países que descriminalizaram as drogas não obtiveram bons resultados e agora estão repensando a medida."

FALSO. Portugal descriminalizou há 9 anos e após provas dadas continua a receber elogios.

a-folha.com
leiam na edição número 5!